segunda-feira, 21 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 211

CENA: Se sabe que muda o tempo


O MENINA BAIANA: Estou oscilando muito. Com chá, sem chá, com álcool, sem álcool, com pílula, sem pílula. Josephine vive. Ela sabe da sua condição enquanto eu procuro saber da minha. Química. Ela é tão sabida que sabe que de nada adianta. Prorroga surtos psicóticos mas não apaga pensamentos de morte. Entre, entre um segundo e sentirá a assassina de um calango morto com água fervente. A assassina de lagartixas com inseticida em spray e o grito delas. Delays. Replays. Eu sinto muito pela vida de morte. Eu vejo coisa onde dizem que não tem, escuto coisas que dizem que não falaram. Escuto chamarem meu nome na paciência enquanto estou na rede. Chego a me erguer pra atender. Treze anos com o corpo aportado no divã me fazem reconhecer que ninguém me conhece na paciência e não posso atender a esse chamado senão me atiro da rede pela janela. Talvez não morra. Talvez você não morra, se ficar bem longe de mim. Eu entendi tudo o que a moça mexicana falou em inglês. Entre, entre, parece que é possível uma nova língua depois dos cinco anos. Continuo me afalbetizando sozinha. Continuo sozinha. Até morrer, estou cansando de me procurar. Entre se quiser. Minha voz está mais potente mas não me alimenta. Você sequer escuta.

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