sexta-feira, 18 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 207

CENA: Algum veneno antimonotonia


O MENINA BAIANA: Bata-bate quando pega no dedo doi demais. Doi mais porque é um se bater. Uma brincadeira meio burra essa. Bate-bate, acho que era essa a brincadeira. Eu disse que você poderia vir, mas me desculpe, mais uma vez, estou assumindo meu bate-bate. Você talvez tenha sido apenas um dos pêndulos. Eu disse pode vir, você acreditou. Eu disse, talvez você seja um relâmpago e só eu o enxergue. Como pode ser feliz ao meio dia escutando voz, e à noite, porque leu um pronome possessivo com um substantivo, passar mal. Nem sei se está certa essa análise gramatical. Sei que entre o português português e o baianês há uma melhor comunicação. Há a mais justa adequação de diálogo, em precisão. Quando eu não entendo, eu digo, e vice versa. Desde o beijo em cada olho meu. Desde a segurança das mãos, desde quando eu fui enxergada, vinda de um sonho recorrente e premonitório, até aqui. Até este exato momento. Eu sou muito exigente. Uso essa palavra que você me deu porque ainda não existe outra. Um vacilo, um trauma. O tempo. Duas palavras, o retorno do recalcado. Não, não é sua a Bahia. É minha. Eu sinto saudades de estar com você nessa cidade. Estou pensando num movimento de sair daqui. Talvez longe do que eu penso que é meu, eu possa me sentir minha.

SER DE LÁ DO SERTÃO: Isso é bem comum.

O MENINA BAIANA: A minha bateria está acabando. Parece um livro de traumas. Desde muito cedo, traumas. Sinto que estou indo quando sinto que você está indo. Preciso me encontrar. Aqui nessa cidade, esse meu jeito, não tem cabimento. É um lugar de prostituição. Eu tive problemas em todos os lugares que passei. Nas relações amorosas que vivi. Porque não me viram, eu quem vi primeiro. Agora alguém me viu antes e estou água em correnteza oceânica. Sei que vai ficar bem. Eu acredito que essa busca findou pra mim. Tenho que me encontrar longe, bem longe.

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