segunda-feira, 5 de junho de 2017

Claquete 100

O MENINA BAIANA:   Foi aparecendo esse corpo em mim. Esses pêlos, esses seios, essas curvas e meu rosto foi mudando. Pari uma criança de mim tão prematura e me apontaram mais esse corpo. É o mesmo, menina. O violão. É o mesmo motivo, menina. De um dor que não passa e a vida inteira desde de menina me põe a chorar. Que dor é essa? Eu tô pensando em dor de alma que piora quando alguém chega muito perto e enxerga que ela existe. Eu vou comprar um tênis, será que resolve? Não. Esse corpo mudado não carece de nada mais, está fraco, praticamente morto. Nem me peça pra cantar. Isso acabou. Um fantasia, inconsequente como toda fantasia. É microfone, é técnico de som, é violão, retorno. É melhor que antes, é taquara rachada de notas descontroladas. É cena, pura cena. Aquele braço que queria alavancar o corpo inteiro que se conteve porque escutou o salto no tablado. Faz bem pra quem? Pra eles olharem pra mim querendo me devorar depois? Pra virem me cumprimentar e achar que podem passar a mão em mim? Acabou a música. Acabou a menina. Acabou esse meu jeito de achar que há saída. Acabou... Talvez se eu sentar... Se eu descer agora pra quadra... Sozinha... Se eu pegar o carro na garagem, fechar tudo e ligar.

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