segunda-feira, 19 de junho de 2017

o Menina baiana - claquete 130

O MENINA BAIANA: E de tanta vida passar que eu estou aqui, resolvendo viver. Trata-se de uma escolha sempre. Eu quero viver, eu não quero morrer, nem me matar eu tenho coragem. Camus está certo, você está certo,  ele está certo, jesus Cristo apaixonado também está certo. O guardador de carros também está certo: o ser humano é cem por cento - o bem compõe trinta e o mal compõe o resto, e é muito difícil lembrar dos trinta quando a onda ruim vem. Talvez você esteja falando dos trinta de mim que lhe mantém por perto, mas sei que se eu desistir de viver agora, você vai embora de vez. Todos irão. Chegará um dia em que eu não terei pernas pra ir buscar, porque meus passos serão invisíveis pra todos. Lágrimas eu não consigo controlar, mas os meus trinta eu tenho a missão de tomar conhecimento pra viver. Ou quer que eu continue mentindo? Há violência no seu silêncio, há violência no desmoronamento da fantasia. Todo rompimento é violento e as reações descendentes são imprevisíveis. Mas já chega de tanta violência vivida por ser criança, por ser menina, por ser preta, por ser irmã do meio, por ser "muito inteligente", por ser "muito exigente", por ser "impetuosa" e um "jorro de amor" - tudo o que dizem que sentem. Vou andar com minhas contas, eu quem escolhi e minha vovozinha me deu. Ela mandou me dizer que ele estava atrasando minha vida. Eu não entendi e senti muita raiva. Atrasar a vida de alguém é impedir que o amor seja o condutor até a morte junto a esse alguém. Eu quero amor dentro da minha cabeça quando a onda bater forte, quando ela vier virada nos setenta.

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