sexta-feira, 9 de junho de 2017

o Menina baiana - claquete 103

CENA: Desocupação da vida

O MENINA BAIANA: Eu quero trabalhar as inéditas. Cantora criada batendo sozinha na porta do bar é cabreirante. Meus dentes não são tão fortes pra morder beirada de cinzeiro de louça e conseguir arrancar um pedaço. Minha voz será mais forte cantando o que ninguém nunca ouviu, você me entende? Aí eu descolo de todas que me dizem que veem. É Elis, é Maria, Mariene, é Elba, é Piaf e agora deram pra escutar Nana. Nana, Santa Muerte! Diga a ele pra me avisar logo se vem porque estou com pouco tempo por aqui. É a história que tem tempo curto agora, não sou eu. Passo os dedos pelas minhas costas e os sinto contornar todas as costelas, fazendo meu próprio raio x. É preciso marcar o tempo. O " beat" é mais rápido, neném disse. Você concorda?

DONA DA MINHA CABEÇA: Laços frouxos existem muitos.

O MENINA BAIANA: É uma irmã que você vê em mim? É uma laço fraterno semelhante a isso?

DONA DA MINHA CABEÇA: Eu tô limpando, faxinando, arrumando.

O MENINA BAIANA: Pouco importa, meu amigo. Pouco importa. Veja, é uma doença mesmo. Algo que talvez eu nunca dê conta. Como tantas pessoas iguais a mim por aí.

DONA DA MINHA CABEÇA: Que texto lindo. É essa dissociação talvez o reencontro com o alívio.

O MENINA BAIANA: Quero conseguir ver a beleza desse texto.

DONA DA MINHA CABEÇA: "sinto na pele meu organismo pedindo esse quase nada"...

O MENINA BAIANA: Vai ver que eu ainda não​ posso ver. Está tudo bem. [pausa e muda de lugar] Ele quer ter o dinheiro dele toda semana.




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