sexta-feira, 16 de junho de 2017

o Menina baiana - claquete 124

O MENINA BAIANA: Vou tentar plantar pra ver se consigo colher isso. Nem cara, nem canto, nem sexo... Isso é ir em parte, ou ficar sem essa parte. Devo aprender o lugar do canto. Esse principalmente.

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Eu não quero morrer. Eu não quero morrer.

O MENINA BAIANA: [gargalhando] Vou escrever isso!

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Eu gosto de tocar. Não me ofereceram rádios.

O MENINA BAIANA: Não tem lugar pra estiar uma toalha e deitar. Fui à mata e me coloquei diante deles. Dessa vez deprimindo nada, só observei. Cheguei até a sonhar esse encontro. Eles nem me notaram. Busquei, busquei e nada. Talvez os répteis tenham me notado. Então eu senti bem dentro de mim o trágico. Tem mesas e bancos espalhados.  Mas vi que vale uma caminhada, olhar pra cara de cada bicho mesmo que pra eles pouco importe a minha presença. O urso parece velho, doente e solitário. O lobo parece solitário. O jacaré enorme parece solitário. As ariranhas parecem estressadas. As araras, conversadeiras. Os hipopótamos transmitem paz - comeram e foram se banhar tranquilamente. O macaco atacou a macaca por ciúmes do cuidador, ele disse que "ninguém pode falar com ela que ele faz isso". Pras zebras a chuvinha com sol pareceu cair-lhes bem e as cobras estavam de barriga cheia e quietas. Vi os gaviões comendo carne vermelha. E havia bichos soltos, soltos na mata. Eu fui surpreendida por um e ele por mim. Uma sensação incrível de estar dentro da mata foi esse encontro. Um alívio tomar consciência do trágico. É um alívio quando mundo me explica melhor as coisas do mundo. É quando enxergo possível conter a minha loucura.




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