quarta-feira, 14 de junho de 2017

o Menina baiana - claquete 116

CENA: Barriga cortada

O MENINA BAIANA: Se a televisão vier pedir pra falar com a cantora, eu vou. Do contrário não vou.

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Que contrário?

O MENINA BAIANA: Essa coisa que não tem escola pra ensinar a não ser a escola de quem me gerou. E isso não é tão boa escola quando a criança é forçada a virar adulta e cuidar de outra criança quando o tempo já passou muito. E a criança nem fez conta.

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Ela está viva?

O MENINA BAIANA: Tanto sangue escorrendo entre as pernas tantas vezes que quase ela nem vem pra mim. Está viva. Tão viva que me colocou na crista de uma onda irreversível, quando eu nem sei nadar numa piscina. Tô tomando vários caldos de mim. O tempo que tenho passado submersa cria irritação na banca julgadora. Pensam que a onda acabou e podem ir, mas é uma sequência infinita. É muito fôlego pra muita frustração. Estão me mandando parar pra me tratar. Eu fiquei um mês na cama pro sangue não escorrer entre as minhas pernas, enclausurada. Será uma necessidade de mim quando na onda? Vi notas tão baixas que desanimei. Todo dia eu penso que consigo sair do mar, mas estou contida nele, quase criando guelras de tanto mergulhar. A criança está viva e passa bem, muito bem, tão bem que anda por aí vagabundando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Segundos Saberes (para o seu comentário)