sexta-feira, 19 de maio de 2017

O MENINA BAIANA: Às vezes sinto que nunca cresci. Será que minha vovozinha também sente essas coisas ou alguma coisa na vida dela fez deixar de sentir coisas de criança? Eu choro muito. Choro de saudade, choro de raiva, choro de frustração, choro de alegria, choro porque leio uma pesquisa que mexe comigo. Mexe comigo. Preciso me recolher um pouco. Sair das vistas. Minha carne está muito viva, como a carne de uma criança na beira de uma lagoa cheia de crocodilos e sucuris. João Marcelo disse que Elis tinha isso de ficar escutando repetidas vezes de tanto que desejava uma música. Disse que ela desejou meu bem meu mal, mas uma baiana chegou primeiro. Eu sinto que encontrei meu novo diretor musical, mas ele está muito ocupado. Ele fala sorrindo. Eu vi. Sem ver. Foi por telefone. Mas eu vi. Cantarolei porque tive que explicar. Confesso que tive muito medo. Minha voz tem afastado muita gente. Enquanto isso, vou vivendo na cama, enquanto isso escuto pacientemente o mar sendo cortado pelas pedras e pela areia, porque ele não tem mais forças pra ir adiante e vir aqui pra eu passar minha mão nele enquanto escrevo, enquanto choro, enquanto canto, enquanto crio o Menina baiana. Acho que eu tô abaixo dele, isso sim, submarino. Eu quem não tenho forças pra subir.

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