domingo, 21 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 72

CENA: Devotagem.

O MENINA BAIANA: Sinto o silêncio da sala todo em mim. Como se nesse silêncio fossem capazes de escutar o meu corpo por dentro. Eu fico esvaziando minha mente e coloco o sorriso no rosto. De repente uma música qualquer. De repente música nenhuma. E vem de novo o sentimento. Eu sinto aqui no meu peito. Estão pedindo pra eu cantar. Eu tento e a voz quase não sai. Meu corpo está muito frágil ou eu não sei cantar quando me pedem. Eu tento e meu óculos embaça. A voz não sai. Aplausos. Eu canto coisa qualquer. Aplausos. Aplausos? Fico quase cega. Nem levanto meu rosto escolhendo enfiar meus olhos nas notas que muito mal eu coloco no braço do violão."Sua voz é perfeita" ... "Te dizem que você parece com a filha de Elis Regina? Digo assim, na presença, no palco?"... Me dizem tanta coisa. Cantem comigo! Eu não entendo muito bem o que me dizem, o que é essa voz perfeita. Eu não entendo nada, apenas de me esvaziar pra que ninguém escute o que se passa dentro de mim. Pra que eu circule sem que ninguém perceba que estou pedindo à santa Muerte que guie meus passos. Eu não tenho culpa se não me veio o senhor do Bonfim, nem as nossas senhoras, tantas Marias. Eu senti a santa Muerte muito perto de mim. Será que a moça que me fita os olhos e fala baixo a minha frente me vê acompanhada de Santa Muerte? Ela tem uma voz grave bonita. Eu fico tímida e digo, meu santo baixa no palco. Mentira. Meu santo está em qualquer lugar, minha santa Muerte. Eu preciso aprender a deixar ele vir em qualquer lugar pra o suor sair das lentes e percorrer o meu corpo inteiro e viver a paz em esvaziar-me.

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