segunda-feira, 22 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 76

CENA: Já tá qualquer coisa

O MENINA BAIANA: Tô meio frouxa... Vovozinha disse que ele foi frouxa por ter conseguido desviar a ida à guerra. Eu hein?! A Venezuela está queimando gente como se faz aqui. Qual será mesmo a diversão da humanidade? Salão de beleza? Viagem turística? Sexo? Me disseram que eu tenho muito carvão molhado molhado pra secar aqui no país onde nasci. Como secar carvão senão tocando fogo? O pior é pensarem que carvão molhado só existe no país dos outros. Tô meio sonolenta. O sangue parece estar coagulado pra estancar. Se eu conseguir passar essas horas deixando que as vitaminas trabalhem, ficarei mais forte. Preciso fazer o roteiro pra apresentação. Está tudo na minha mente. Na hora eu mesma sou carvão e fogo, com certeza vou esquecer algo. Há um ano eu o vi com lágrimas nos olhos se dizendo... Orgulhoso? Maravilhado? Renovado? Ele dizia que a arte estava viva e que viajou até aqui pra testemunhar um processo de criação. Eu pensando que ele veio me ver. Me viu. Tremendo em concha, em feto, metida num sofá, insone sem encostar um dedo em mim horas antes de eu subir lá pra finalmente criar a cantora. Riu de mim. De repente inventou de sair porque queria matar a saudade da ventania de Ondina. Eu vou também, eu disse. "Você está maluca?!?Pegar todo esse vento e colocar em risco a sua voz?!". Eu disse, do fundo do meu ser carvão molhado, não posso ficar sem a sua presença até lá.

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